Este post é o 1º de uma série sobre o Processo Criativo. O 2º você lê aqui e o 3º aqui.
Se você já trabalhou ou está trabalhando em uma agência de publicidade, você deve conhecer o processo criativo da seguinte maneira: a equipe criativa se reúne na sala de reunião com umas archives debaixo do braço, lê o briefing e começa um brainstorm que vai durar o máximo que o prazo permitir. Depois, a equipe lê as ideias para o diretor de criação, que aprova as que serão desenvolvidas.
Esta é apenas uma maneira de realizar o processo criativo. Cada profissional, independente de qual área atua (publicidade, fotografia, arte, literatura, ciência), tem as suas peculiaridades na hora de colocar a criatividade em ação.
Um poeta pode começar regando as plantas enquanto pensa numa questão existencial para solucionar em versos, e um músico pode iniciar seu ritual sentando diante do piano e tocando sem rumo. Mas em todas as áreas, por mais diferentes que elas pareçam, há sempre alguns fatores em comum. E é sobre isso que vamos falar nesta série de posts.
Hoje, vamos começar descontruindo alguns mitos que milhares de pessoas têm sobre a criatividade. ESTA PARTE É MUITO IMPORTANTE, VIU? Pois vai te levar para um caminho muito mais rico e produtivo da criatividade. Vamos lá.
3 mitos criativos para você jogar no lixo AGORA
1) Criatividade NÃO é uma iluminação divina
Você não vai ter uma grande ideia através de uma iluminação repentina. Vou repetir com outras palavras: a criatividade não é uma luz que se acende de repente enquanto você está no banho.
Uma boa ideia pode até acontecer no chuveiro (o famoso insight), mas ela não começou a nascer na hora que você abriu a água. Ela começou com trabalho. Ela nasceu na hora que você leu um briefing e pensou a tarde toda no problema, ou então quanto você leu algo em algum lugar e, em um momento especifico, você ligou aquela informação com outra e tudo fez sentido.
Insight é o súbito fim da burrice.
(Não lembro quem disse)
Isso é insight e insight nada mais é do que você encontrar uma pergunta para uma resposta que você já tinha guardada, mas até então não tinha utilidade (isso é informação inútil que vou falar no post de amanhã).
Portanto, RALA MULEQUE. Ideia não vem do céu, vem do cérebro.
A ideia vem do fazer, não o contrário.
Charles Watson
2) Criatividade NÃO é só uma ideia na sua cabeça (ou no moleskine)
Ter uma grande ideia é empolgante e pode deixar você se sentindo a pessoa mais criativa do mundo. Mas se você não materializar esta ideia, ela nunca será verdadeiramente criativa. Por que? Pois a criatividade de verdade depende de uma ruptura dentro de uma cultura e do reconhecimento de outras pessoas.
Calma que eu vou explicar melhor.
Criatividade é quando você realiza uma inovação em seu campo de atuação. Ou seja, é quando você propõe uma solução para um problema de uma forma que ninguém propôs até então. E mais importante: essa sua inovação precisa ser reconhecida por um grupo de experts. E como uma ideia dentro da sua cabeça pode ser comparada com outras já feitas e reconhecida na sua área? Pois é.
Portanto, pare de achar que você é criativo só porque tem uma moleskine cheia de ideias anotadas. Você será criativo quando realizar estas ideias (mesmo sendo um fantasma) e receber reconhecimento por elas. Mais uma vez: RALA MULEQUE.
3) Criatividade NÃO tem nenhuma relação com talento
Talento, no sentido de aptidão natural, não existe. Vou repetir em caixa alta: TALENTO NÃO EXISTE.
Não há nenhum estudo científico que comprove que Einstein nasceu com um cérebro avantajado, que Steve Jobs tinha um gene especial para inovação ou que Eugênio Mohallem tinha predisposição linguística a pensar o alfabeto de uma maneira mais criativa quando criança.
Querido redator, você não tem absolutamente nada congnitivamente diferente de nenhum destes caras. Isso significa que você pode ser tão criativo quanto eles. Como? É o que vamos falar amanhã. Cola no blog que essa série de posts tá incrível!
A vanguarda não é um lugar exclusivo dos gênios. Para você ter ideia, pouquíssimos vencedores do Prêmio Nobel tem um QI maior que 140.
Charles Watson
Sobre o vídeo: “você não escreve bons títulos. AINDA.” 😉
Muito legal o artigo, tem verdades que já comprovei bastante nos meus mais de 20 anos de propaganda. Mas sou obrigado a corrigir algo que você comentou sobre o Einstein. Como se sabe, ele deixou expresso no testamento que seu cérebro fosse estudado pela ciência, o que de fato aconteceu. Assim descobriram que Einstein tinha um número maior que o comum de células de glia, que ajudam a nutrição dos neurônios e na comunicação entre eles. Portanto o cientista tinha sim uma vantagem biológica em relação ao resto da humanidade. O que não invalida seus argumentos sobre a criatividade ser não um talento nato, mas uma faculdade aprendida. Abraços
Ei Jason!
Você está certo, mas até certo ponto.
Em 1985 um estudo apontou que o cérebro de Einstein tinha um número maior do que a média de células Glia (Estudo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3979509?dopt=Citation). No entanto, isso foi em 1985. Se desde então muita coisa mudou no mundo, o que faz você pensar que este estudo continua 100% cientificamente embasado? Pois é, ele não é mais tão aceito assim.
Não só os cientistas descobriram que a Glia é uma célula que também se comunica (veja esse video:https://www.youtube.com/watch?v=ngX3O4Ovmgo) há inúmeros estudos que apontam que ela se modifica de acordo com o desenvolvimento (veja este estudo: http://link.springer.com/article/10.1007/BF00298510). Então, além de colocar em xeque a pesquisa de 1985 no aspecto de que ela trabalha apenas com imagens do cérebro de Einstein e não o cérebro em si, e em um contexto cuja a tecnologia era muito mais limitante do que a de hoje, ela já está ultrapassada por outros estudos cientificos comprovados. A ciência caminhou e, ao que ela indica, a causa do superavit de Glias no cérebro de Einstein está muito mais ligada ao trabalho de desenvolvimento que ele teve em vida, do que com o hipótese dele ter nascido com o cérebro assim. Sinto lhe dizer, mas a genialidade dele não foi culpa do talento como aptidão inata. =S
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Esforço e treino são fundamentais, sem dúvida. Mas existem aquelas pessoas com algo a mais, em qualquer profissão. Eu conheci algumas na redação e elas sempre conseguem dar um passo adiante. Talento existe sim e é demagogia dizer que não.
É um ponto de vista, mas é errônea acreditar que uma pessoa com talento alcança grandes objetivos. Talento sem trabalho não leva ninguém a lugar nenhum. 😉 Ou seja, voltamos ao que realmente importa: trabalho, trabalho e mais trabalho.
Caí nesse texto googlando sobre branco criativo, amei e quando vi foi a linda da Fabi Soares quem escreveu <3 <3 <3 Criação é isso mesmo, 2% inspiração, 98% transpiração!